Minha frágil pequenina. És a igreja da minha aldeia. Nela vão rezar os fiéis do meu pensamento, deste substrato homem-divino que todos somos. Já o és também, minha pequenina flor, quase botão de ontem, o outro sol que amanhã virá… És toda a minha certeza dominada pela paisagem doce de uma vivacidade que extasia – desafio imparável de elementos, imperscrutáveis, superiores, transcendentes, sobre-humanos. Mas já és! E desse dom em que te vestes linda, queria eu vestir o mundo que te espera. Basta querê-lo eu sei. Mas mesmo que não aconteça, se o mundo te receber nu, não perdoará a fraqueza duma coexistência incoerente do amor que trazes com aquele que te acompanhará de nós, dos outros. E vamos nessa ocasião ser perspicazes, profundos, e com humildade vestir o mundo nu com o AMOR que nos vais trazer. Então venceremos e o teu exemplo dará frutos sãos. Contigo seremos mais… mais dois olhos onde há a verdade do mundo. “
sábado, 20 de junho de 2015
Filho - há 48 anos (1967 / Nampula)
Meu querido filho. Há no teu olhar a verdade do mundo.
O que o mundo é não sei nem amanhã saberei.
Se não ousasse ter um ponto de apoio onde fixe meus pensamentos ( que este corpo alimenta ) nada existiria que me merecesse respeito…
Mas tenho-te.
Tenho no teu olhar a verdade do mundo. E não sei como ela é. Sinto-a com o teu olhar. Cheia de amor. Cheia de ternura. Cheia de uma paz que não sou capaz de ver em mais ninguém. Sinto-a, na sua fragilidade doce e funda. Tanto e tão funda que também ninguém lá chega. Todos clamam por ela, mas são demasiado conscientes e a sua voz perde-se num vendaval de cuidados. Mas tu não. Tu, até EXISTES, e no bulício de hoje que abraças com teu “ ser “ está todo o sentido duma manhã cheia…
… cheia de irrequietude.
… cheia de irreflexões.
… cheia de vazios, a preencher logo a seguir.
… cheia dum sol que não queima.
… cheia de uma tempestade-bonança.
… cheia de FORÇA… duma força que transborda e chega até mim.
Pai… “
O que o mundo é não sei nem amanhã saberei.
Se não ousasse ter um ponto de apoio onde fixe meus pensamentos ( que este corpo alimenta ) nada existiria que me merecesse respeito…
Mas tenho-te.
Tenho no teu olhar a verdade do mundo. E não sei como ela é. Sinto-a com o teu olhar. Cheia de amor. Cheia de ternura. Cheia de uma paz que não sou capaz de ver em mais ninguém. Sinto-a, na sua fragilidade doce e funda. Tanto e tão funda que também ninguém lá chega. Todos clamam por ela, mas são demasiado conscientes e a sua voz perde-se num vendaval de cuidados. Mas tu não. Tu, até EXISTES, e no bulício de hoje que abraças com teu “ ser “ está todo o sentido duma manhã cheia…
… cheia de irrequietude.
… cheia de irreflexões.
… cheia de vazios, a preencher logo a seguir.
… cheia dum sol que não queima.
… cheia de uma tempestade-bonança.
… cheia de FORÇA… duma força que transborda e chega até mim.
Pai… “
O 25 de Abril :ideia e projecto
O 25 de Abril :ideia e projecto
É como ideia ou projecto de revolução
democrática que o 25 de Abril tem uma génese, um nascimento e uma vida que
perdurará. Cresce, desenvolve-se e ergue-se como base da construção dos «amanhãs»
que se querem e queremos, mais libertadores, em todas as «vilas morenas e suas fraternidades»
do novo Portugal.
O
programa do MFA que traduzia no essencial os anseios do Povo Português quis ser a coluna vertebral desse projecto.
Haverá
ainda alguma dúvida que o programa do MFA quis ser a coluna vertebral dum
projecto de transformação que bebeu
nas fontes ideológicas para a construção duma sociedade mais participativa e
mais justa, mais consciente e por isso mais solidária?!
Mais
solidária para acabar com as desigualdades e injustiças. Mais consciente para
construirmos uma melhor Democracia ; mais humana e à altura dos sonhos que nos
apontaram a caminho da libertação e do erguer duma nova cidadania.
Porque se é sonhando que o caminho se
vislumbra, é caminhando que o caminho se faz... consolidando as
conquistas democráticas já alcançadas nomeadamente nos Direitos e Liberdades
fundamentais, como cidadãos de corpo inteiro.
E se
para o caminho de Abril as lições do passado foram traçadas com a coragem, o
sacrifício e o sangue dos Heróis (e deste Povo Herói), depois de Abril
soltou-se a Liberdade, iluminou-se a Esperança, perscrutou-se o Futuro criando
a Primavera desse projecto. Projecto para sermos todos mais felizes.
Projecto por cumprir, mas que realizaremos...
honrando Abril e todos os que por ele lutaram e até morreram.
Não é
a trágica “continuidade do passado” que tombou na madrugada libertadora. Mau
grado se levantam saudosistas disfarçados e até cobertos com uma capa de evolução. Para esses parece não ter havido
o 25 de Abril e talvez lhes seja
doloroso comemorar, ano após ano ,o seu significado.. Esforçam-se, a coberto da
Liberdade de Abril, para que não vingue um projecto nacional consequente.
Mas
grande parte dos portugueses ainda se lembra da terrível noite escura da
ditadura e do que significava “a evolução na continuidade” e abraçou, há trinta e dois anos, a Alvorada
de Abril ; não como o inicio duma evolução mas como a profunda mudança que
continua em curso e essa chama-se revolução
/ transformação que, com avanços e recuos , continua a impor-se como o
único projecto nacional estimulante e aglutinador dos portugueses..
Nesse
propósito continuaremos lutando e com as memórias da experiência de vitórias e
de derrotas prosseguiremos a caminhada.
A grande vitória é continuar
a lutar com coragem e sem desânimo no que se acredita.
Ao festejarmos
Abril (em cada ano) renovamos as nossas forças para que o espírito do 25 de
Abril perdure e vença.
Aos jovens, à Juventude está reservada a bonita
tarefa de, em Liberdade e em Democracia, construir um Portugal melhor. Foi
exactamente para eles, para os jovens, para quem o 25 de Abril foi mais
generoso. Merecem-no e estamos certos abraçarão e honrarão esse compromisso.
Por
isso estamos todos de parabéns ao festejarmos e ao comemorarmos o dia em que as
portas da Liberdade se abriram.
25 de Abril , sempre !
Manuel
Duran Clemente
Capitão
de Abril
A verdade como arma e o amor como escudo Abril de 1973
Sabes então o que se passa? À medida que caminho, a cada interrogação que profiro, eu obtenho sua resposta… Vou sentindo que a vida se me escapa… que vou morrendo aos pedaços, pouco a pouco, deixando de ser “ eu “. Corrói-me a própria resignação imposta, destrói-me o próprio conformismo imposto… Todo este meu lutar é de resultado supérfluo, todo ele é o construir duma armadura que me cegue, que me transforme para poder caminhar sem ver para onde, nem como. Assim, a própria atmosfera é a minha prisão. Sou como condenado arrastando pesadas grilhetas… em vão.
Só me resta agir, agir para que este “ em vão “ se torne precioso, útil.
Estes últimos anos da minha existência têm sido vividos de baixo de loucas hipóteses. Atravesso o que não é coerente comigo na esperança do “ mais tarde “. Mais tarde conseguirei? Assim, me tenho e me têm iludido também!
À medida que caminho, reparo que esse “ mais tarde “ é uma traição. Esse mais tarde só poderá existir com uma loucura, com algo a que chamem loucura; e eu nesse “ mais tarde “terei forças para lutar?
As horas que passam sobre cada um de nós, vão-nos enfraquecendo e transformando… se nos encontramos em certas atmosferas…
“ Mais tarde “arreigado a uma cómoda situação, doente duma enfermidade incurável “ eu “ já não existiria. De mim haveria o meu nome e comigo as recordações… Peça duma máquina habituada ao vai-vem do dia a dia… alcatruz da nora… sem nada construir, sem nada transportar!
Viajo triste por estas encruzilhadas.
Eu não posso ser alegre aqui… aqui suicidando-me! Sou-o por vezes quando a sensibilidade me desvia a outras paragens. Mal acaba esse desvio e caio na minha realidade volto a acrisolar-me na minha tristeza e então todos os dias me parecem sem sol, amargos e cinzentos!
Sinto-me doente… doente assim nesta amargura que é a própria cama onde hoje me deito… onde só depois de mil voltas consigo adormecer. E que há em cada destas voltas?
Um pensamento, uma tortura, uma suposta solução, o entrechoque de mil e uma coisas…
O que hoje quero já não é novidade para mim… O que hoje quero já o quis antes! Pensaram-me, então, doente. Desenharam diagnósticos a meu respeito e receitaram-me remédios…
Para eles eu vou recair. Para mim quero ressuscitar completamente.
Oxalá consiga expulsar de meu corpo os resíduos dessas falsas panaceias… que ainda me entorpecem os membros e os sentidos…!
Oxalá a minha ânsia não prolifere a minha cegueira aqui iminente. Não me interessa ser feliz, por ter tudo o que vejo, sendo cego.
Prefiro que a minha integridade não quebre mais a um reajustamento, a uma adaptação incoerente, despropositada, absurda e até desumana.
Quero a VERDADE COMO ARMA E O AMOR COMO ESCUDO… Sinceramente que mais posso procurar?
Que o futuro me traga o eco destas palavras e me encontre noutro sítio para as poder ouvir com outro tom. “
( FACTOS E FACÇÕES – livro não publicado. Autor: o requerente ).
Só me resta agir, agir para que este “ em vão “ se torne precioso, útil.
Estes últimos anos da minha existência têm sido vividos de baixo de loucas hipóteses. Atravesso o que não é coerente comigo na esperança do “ mais tarde “. Mais tarde conseguirei? Assim, me tenho e me têm iludido também!
À medida que caminho, reparo que esse “ mais tarde “ é uma traição. Esse mais tarde só poderá existir com uma loucura, com algo a que chamem loucura; e eu nesse “ mais tarde “terei forças para lutar?
As horas que passam sobre cada um de nós, vão-nos enfraquecendo e transformando… se nos encontramos em certas atmosferas…
“ Mais tarde “arreigado a uma cómoda situação, doente duma enfermidade incurável “ eu “ já não existiria. De mim haveria o meu nome e comigo as recordações… Peça duma máquina habituada ao vai-vem do dia a dia… alcatruz da nora… sem nada construir, sem nada transportar!
Viajo triste por estas encruzilhadas.
Eu não posso ser alegre aqui… aqui suicidando-me! Sou-o por vezes quando a sensibilidade me desvia a outras paragens. Mal acaba esse desvio e caio na minha realidade volto a acrisolar-me na minha tristeza e então todos os dias me parecem sem sol, amargos e cinzentos!
Sinto-me doente… doente assim nesta amargura que é a própria cama onde hoje me deito… onde só depois de mil voltas consigo adormecer. E que há em cada destas voltas?
Um pensamento, uma tortura, uma suposta solução, o entrechoque de mil e uma coisas…
O que hoje quero já não é novidade para mim… O que hoje quero já o quis antes! Pensaram-me, então, doente. Desenharam diagnósticos a meu respeito e receitaram-me remédios…
Para eles eu vou recair. Para mim quero ressuscitar completamente.
Oxalá consiga expulsar de meu corpo os resíduos dessas falsas panaceias… que ainda me entorpecem os membros e os sentidos…!
Oxalá a minha ânsia não prolifere a minha cegueira aqui iminente. Não me interessa ser feliz, por ter tudo o que vejo, sendo cego.
Prefiro que a minha integridade não quebre mais a um reajustamento, a uma adaptação incoerente, despropositada, absurda e até desumana.
Quero a VERDADE COMO ARMA E O AMOR COMO ESCUDO… Sinceramente que mais posso procurar?
Que o futuro me traga o eco destas palavras e me encontre noutro sítio para as poder ouvir com outro tom. “
( FACTOS E FACÇÕES – livro não publicado. Autor: o requerente ).
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Este país também é para velhos ! ”
Este país também é para velhos ! ”
«Este país não é para velhos» tradução errada dum
autor americano que deu à luz uma obra recentemente transformada num filme,
muito badalado. Fui ver. Não gostei. O título com tradução correcta seria “este
país já não é o que era».Refere-se a uma certa América. Continuaria a não
gostar dele, mas talvez o entendesse melhor.
O meu título refere-se a Portugal. Mais, refere-se à nossa essência de Portugal de Abril. Explicarei porquê!
Sou um vaidoso. Às vezes dizem ou insinuam que terei alguma sede de protagonismo. Já me deram tantas explicações para estes males. Nenhum remédio. Desculpo-me tantas vezes comigo próprio...Que serei vaidoso pelas coisas boas, por muitos anos de falta de auto-estima, e por desconfiar de ter sido sempre o primeiro classificado dos meus cursos e não achar que o merecia .
Media o mundo por mim e a minha bitola era exponencialmente mais exigente do que a dele. Afinal não era preciso ser como eu queria. Bastava que fosse como ele (o mundo) queria ou precisasse que eu fosse para com ele ! Super-ego a mais, dirão os especialistas.
Mas isto deu-me pancada forte. Vaidade e protagonismo para quê?! São tudo balelas!? Procura-se remédio...
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Caíram-me umas folhas dum baú. Um manuscrito de duas folhas datadas de 27 de Fevereiro de 2003 e escritas por um idoso que iria fazer 89 anos no então ,próximo, dia 13 do mês de Abril.
Nesse dia a sua irmã mais velha festejava 100 anos.
A partir daqui as palavras são suas.
«Excelentíssimo Senhor Presidente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão e seus colaboradores. Minhas Senhoras e meus Senhores.»
«Como irmão mais novo presente e ainda vivo, venho agradecer a Vossas Excelências, primeiro as palavras neste momento de homenagem à minha irmã e em segundo lugar por terem organizado este evento no dia em que se comemoram as suas cem risonhas Primaveras.»
«A família S.C. da Capinha, era constituída ,além dos pais, por cinco irmãos, sendo a homenageada a mais velha que para os mais novos era considerada uma segunda mãe, porque os pais devido à labuta, fora de casa, era a esta a quem entregavam o cuidado dos irmãos mais novos, ao ponto de nunca poder ter frequentado a escola e por isso ela se queixava de todos saberem ler e ela ser analfabeta.»
«Esta nossa irmã era uma rapariga muito bonita e por isso todos os rapazes do seu tempo a queriam namorar mas a nossa mãe não a deixava dançar no baile, que aos domingos, se realizava no adro da Igreja da Capinha. Por isso eu (o mais novo e único irmão masculino) tinha como missão avisá-la quando a nossa mãe saía de casa, próximo do largo, com um pau debaixo do avental para lhe bater se a apanhasse a dançar, por já saber desse seu gosto.»
«Como era também um cantadeira como poucas, pela altura da Quaresma, na procissão do enterro do Senhor, que se realizava cerca da meia-noite da Quinta-Feira Santa, os promotores das cerimónias escolhiam-na sempre para cantar no papel da Verónica da história bíblica. Ela fazia esse papel com um melodia inexcedível.»
«Quando lhe arranjaram namoro, para casar, com aquele rapaz desta terra (Peroviseu) que veio a ser seu marido, os rapazes da Capinha obrigaram este a pagar-lhes um monte de pão de trigo de quatro quartos, da altura do namorado e ainda um presunto e três almudes de vinho, para se vingarem de terem perdido a rapariga mais bonita da sua terra.»
« Foi sempre uma grande amiga dos seus irmãos. Por exemplo. Eu fui contemplado com o pagamento dos livros que precisei para me matricular na Escola Industrial e Comercial da Covilhã, onde também trabalhava, mas onde ela ía todos os sábados, montada num animal, com dois cestos de azeitona para vender na praça daquela cidade.»
«Também depois da irmã Natividade (terceira na idade) ter casado no Fundão, resultando desse casamento o nascimento de dois filhos, o Fernando e o Joaquim António, e esta nossa irmã ter negócios de culinária e venda de roupas que confeccionava, esta nossa mana Maria ía a todas as feiras e romarias vender aqueles produtos para auxiliar a irmã e ao regressar depois das vendas, apresentava já as contas feitas. Mentalmente apresentava as receitas e os custos como se fosse uma letrada.»
«Também por alturas dos festejos de Santa Luzia ,o meu cunhado, num carro de bois, pedia-me para lhe escrever um letreiro “Só se vende um copo de vinho a quem comprar um passarinho”. Esse meu cunhado mandava preparar “taralhões” e pendurava-os no tampo da pipa e era a mana Maria que seguia a pé, a tràs do carro, a vender os copos de vinho pelo caminho. Ao chegarem à romaria de Santa Luzia já o vinho e os pássaros estavam vendidos e por isso mandavam regressar ao Fundão o “ganhão” com o carro e a pipa já vazia.»
«Já referi que ela era muito cantadeira e isso era de facto uma constante até mesmo nos trabalhos agrícolas. De quando eu era novato há umas cantigas que me ficaram no ouvido.»
« Senhora Santa Luzia/ Minha Senhora tão bela/Com a Vossa ajuda no caminho/Estamos a chegar à Vossa Capela.»
«A terra da Beira-Baixa/É de todas a mais bela/A dar castanhas e azeitonas/Não há outra como ela.»
«O comboio da Beira-Baixa/Tem 24 janelas/Mais abaixo,mais acima/Meu amor vai numa delas.»
«Agora só me resta pedir desculpa pelo tempo que vos tomei, desejando que todos os presentes cheguem a esta bonita idade de gozar as cem risonhas Primaveras tal qual a minha irmã e segunda mãe,a qual é ainda o orgulho de três filhos, dez netos, quatorze bisnetos e cinco trinetos.A todos um bem-haja muito grato e que Deus vos pague este sacrifício que fizestes por vir a esta bela freguesia da Peroviseu.»
O autor destas palavras viveu entre nós mais quase quatro anos. Não chegou, para si, os votos que fez para os então presentes: atingirem as “risonhas cem Primaveras”.
Mas teve sempre muito orgulho no caminho que fez caminhando...e nas sementes deitadas a campo...
Ela a irmã fez no passado 27 de Fevereiro 105 “risonhas Primaveras”, provando que este país de Abril também é para velhos como foi, também, com estes velhos que cresceu e se libertou.
E que será com os novos e velhos ,do Minho ao Algarve, que acabaremos por construir, as peças por fazer, do Abril , que todos queremos.
Como poderá um humilde cidadão deixar de ser vaidoso?
Basta não esquecer as origens...e se puder olhar todas as noites para a estrela Polar. Mesmo em noites de névoa ou nevoeiro ela está lá.
Caíram-me umas folhas dum baú. Um manuscrito de duas folhas datadas de 27 de Fevereiro de 2003 e escritas por um idoso que iria fazer 89 anos no então ,próximo, dia 13 do mês de Abril.
Nesse dia a sua irmã mais velha festejava 100 anos.
A partir daqui as palavras são suas.
«Excelentíssimo Senhor Presidente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão e seus colaboradores. Minhas Senhoras e meus Senhores.»
«Como irmão mais novo presente e ainda vivo, venho agradecer a Vossas Excelências, primeiro as palavras neste momento de homenagem à minha irmã e em segundo lugar por terem organizado este evento no dia em que se comemoram as suas cem risonhas Primaveras.»
«A família S.C. da Capinha, era constituída ,além dos pais, por cinco irmãos, sendo a homenageada a mais velha que para os mais novos era considerada uma segunda mãe, porque os pais devido à labuta, fora de casa, era a esta a quem entregavam o cuidado dos irmãos mais novos, ao ponto de nunca poder ter frequentado a escola e por isso ela se queixava de todos saberem ler e ela ser analfabeta.»
«Esta nossa irmã era uma rapariga muito bonita e por isso todos os rapazes do seu tempo a queriam namorar mas a nossa mãe não a deixava dançar no baile, que aos domingos, se realizava no adro da Igreja da Capinha. Por isso eu (o mais novo e único irmão masculino) tinha como missão avisá-la quando a nossa mãe saía de casa, próximo do largo, com um pau debaixo do avental para lhe bater se a apanhasse a dançar, por já saber desse seu gosto.»
«Como era também um cantadeira como poucas, pela altura da Quaresma, na procissão do enterro do Senhor, que se realizava cerca da meia-noite da Quinta-Feira Santa, os promotores das cerimónias escolhiam-na sempre para cantar no papel da Verónica da história bíblica. Ela fazia esse papel com um melodia inexcedível.»
«Quando lhe arranjaram namoro, para casar, com aquele rapaz desta terra (Peroviseu) que veio a ser seu marido, os rapazes da Capinha obrigaram este a pagar-lhes um monte de pão de trigo de quatro quartos, da altura do namorado e ainda um presunto e três almudes de vinho, para se vingarem de terem perdido a rapariga mais bonita da sua terra.»
« Foi sempre uma grande amiga dos seus irmãos. Por exemplo. Eu fui contemplado com o pagamento dos livros que precisei para me matricular na Escola Industrial e Comercial da Covilhã, onde também trabalhava, mas onde ela ía todos os sábados, montada num animal, com dois cestos de azeitona para vender na praça daquela cidade.»
«Também depois da irmã Natividade (terceira na idade) ter casado no Fundão, resultando desse casamento o nascimento de dois filhos, o Fernando e o Joaquim António, e esta nossa irmã ter negócios de culinária e venda de roupas que confeccionava, esta nossa mana Maria ía a todas as feiras e romarias vender aqueles produtos para auxiliar a irmã e ao regressar depois das vendas, apresentava já as contas feitas. Mentalmente apresentava as receitas e os custos como se fosse uma letrada.»
«Também por alturas dos festejos de Santa Luzia ,o meu cunhado, num carro de bois, pedia-me para lhe escrever um letreiro “Só se vende um copo de vinho a quem comprar um passarinho”. Esse meu cunhado mandava preparar “taralhões” e pendurava-os no tampo da pipa e era a mana Maria que seguia a pé, a tràs do carro, a vender os copos de vinho pelo caminho. Ao chegarem à romaria de Santa Luzia já o vinho e os pássaros estavam vendidos e por isso mandavam regressar ao Fundão o “ganhão” com o carro e a pipa já vazia.»
«Já referi que ela era muito cantadeira e isso era de facto uma constante até mesmo nos trabalhos agrícolas. De quando eu era novato há umas cantigas que me ficaram no ouvido.»
« Senhora Santa Luzia/ Minha Senhora tão bela/Com a Vossa ajuda no caminho/Estamos a chegar à Vossa Capela.»
«A terra da Beira-Baixa/É de todas a mais bela/A dar castanhas e azeitonas/Não há outra como ela.»
«O comboio da Beira-Baixa/Tem 24 janelas/Mais abaixo,mais acima/Meu amor vai numa delas.»
«Agora só me resta pedir desculpa pelo tempo que vos tomei, desejando que todos os presentes cheguem a esta bonita idade de gozar as cem risonhas Primaveras tal qual a minha irmã e segunda mãe,a qual é ainda o orgulho de três filhos, dez netos, quatorze bisnetos e cinco trinetos.A todos um bem-haja muito grato e que Deus vos pague este sacrifício que fizestes por vir a esta bela freguesia da Peroviseu.»
O autor destas palavras viveu entre nós mais quase quatro anos. Não chegou, para si, os votos que fez para os então presentes: atingirem as “risonhas cem Primaveras”.
Mas teve sempre muito orgulho no caminho que fez caminhando...e nas sementes deitadas a campo...
Ela a irmã fez no passado 27 de Fevereiro 105 “risonhas Primaveras”, provando que este país de Abril também é para velhos como foi, também, com estes velhos que cresceu e se libertou.
E que será com os novos e velhos ,do Minho ao Algarve, que acabaremos por construir, as peças por fazer, do Abril , que todos queremos.
Como poderá um humilde cidadão deixar de ser vaidoso?
Basta não esquecer as origens...e se puder olhar todas as noites para a estrela Polar. Mesmo em noites de névoa ou nevoeiro ela está lá.
Manuel Duran Clemente Fundão 2003
ALENTEJO
ALENTEJO
Alentejo
Além, mistério!
Além, infinito não
provado!
Além,sobreiro despido!
Além,fronteiras não
passadas
por reprimidos sopros
de vida...
Além,aonde não
chegámos
porque estamos lá
porque nascemos nas
suas entranhas...
conterrâneos da
angústia,
naturais do
AMOR
...um lugar de terra
quente.
(MDC-1972/Serpa/Pousada de S.Gens...olhando a planicie...e um país)
Pregados na parede
Pregados na parede
.............................
Pregados nas paredes,
sois gente .
Sois gente,
sois flores,
sois terra,
sois acidente...
Acidente é
pregarem-vos na parede;
nessa monotonia em que
sois sempre perfil
alinhado
da parede que vos
mantém.
Peço-vos que
faleis,Nada.
Peço-vos que
cresceis,Nada.
Peço-vos que mudeis,Nada.
Sois sempre gente
muda,flor curta,terra igual...quadros da minha casa!
(1962 Amadora---MD
Clemente "Factos e Facções)
Sonho de Amor
Chegas
Entras
nos meus olhos com ternura
Vestes
nosso abraço de infinito...
Sei-te
Solto-te
no vento
E
traço nele a tua amargura.
Noite
da minha aldeia
Cheiro
de eucalipto.
Canção
do mar.
Calor
da terra.
Tenho-te.
Silencio-te
no mar
e
navego nele a tua doçura.
Amo-te.
Projecto-te
nas estrelas
e desenho
nelas tua figura.
Noite
do mundo.
Resina
da serra.
Seiva
da vida,
gritos
de dor?
Gritos
de amor.
Sol
sereno
do
dia do mundo.
Cresce
o pinheiro,
torna-o
fecundo.
Que
eu grito de amor.
Que
eu grito de dor:
-um sonho de vida!!!
MDC
(em algum tempo?)
O primeiro dia...do resto dela
O primeiro dia...do
resto dela
.......................................................................................
Não te estou
possuindo.
Não te estou
desflorando.
Estou saindo do teu
ventre
Estou sentindo a manhã
Abrindo o cortinado:
rompi,
Abrindo a janela:
NASCI .
(1961/ciclos e
círculos: Torre das Vargens / MDClemente)
NASCENTE
NASCENTE
Fio de água pura,
princípio de ser.
...Que sangue flutua
do barco no porto,
Este do rio
Aquele do corpo...
...e ambos de nós!
Que
Falo pinhão,
Fá-lo em pinha.
Que
Amante acarinha
Ateia...incendeia
Foz de fulgor.
Da teia...por fio:
Nascente...do rio.
Corrente de amor.
MDC/2006/Lagos
VAZIO...que apetece preencher !
VAZIO...que apetece
preencher !
Quarto de dormir
á noite
sem mulher
...
é vazio
que apetece
preencher...
é carícia
que apetece fazer...
é pão
que apetece comer...
é apetite
de todas as coisas
entre nada e o
infinito...
é orgasmo frustrado
que não negado
porque há tanta mulher
por aí
com o meu quarto de
dormir!!!
SE ESPERAS...NÃO DESESPERES!
SE ESPERAS...NÃO DESESPERES!
"Quem espera desespera.../
o melhor é esperar pelo que
está dentro de nós/
e encontrarmos mais depressa uma voz/
e olhando o céu à noitinha/
se
vejam estrelas que caminham/
se ouça um vento não barulhento/
e na ramagem das
silvas amoras/
se colha nelas companhia e alento/
...e sem medo de errar...se
possa ser destemido ou destemida/
se flua no precipício e se voe para o mar/...
…e de si, pessoa, seja sobretudo amiga/
para poder trespassar
ondas e amar....”
MDC 04072011
JARDIM REAL
JARDIM REAL
"Na esplanada do jardim lisboeta
Sentados, três jovens dialogam,
qual «speaker corner» lusitano:
«Preferia ser burra mas linda»...uma,
«Eu, não! Duas vezes feia, mas inteligente»...outra,
«Sabem que é
excitante as mulheres serem estrábicas»...ele.
E neste jardim cheio de inteligência
são mais burras as magnólias ou as palmeiras?
Se pela burrice se medisse a beleza
pelo andar dos passarinhos encontraríamos a métrica da
tristeza?
Mas não,
para mim tudo é belo
e inteligente...
menos o que não é belo e inteligente!
Sensual, quase tudo que respira
como esta pomba vadia que me acaricia o tornozelo
(só pode ser pomba...porque pombo me bicaria).
Sensual era este jardim de Lisboa
a quem deram um nome de aristocracia.
Real Príncipe ou Príncipe Real...?
Onde toda a nossa burrice arauta
se transforma na mais inteligente pausa:
Por nos sentirmos tão perto dos nossos vizinhos
bichos de conta, da terra manta, árvores -aves...
desta parcela real...onde nos deitarão limpinhos!"
[MDC...9 de Julho de 2011,pelas 18h00,no Principe Real/Lisboa,
à espera duma carruagem...de corcel...]
ABRAÇO
O
que nos unirá?
………………….
A
“temperatura” nos une!? Unirá?
Talvez,
sobretudo quando (...ou só quando) faz muito frio.
No
tempo quente mergulhamos e encontramos as conchas e os corais e com eles nos
enlevam os sonhos, se acatam as agruras e se desfazem lamurias...e o tubarão
nos engole...
Mesmo
submergindo...o ar é outro e já não é o que nos serve para respirar/viver/ ou
sobreviver...
Na
onda se vão os remos... porque o barquinho piroga se afundou...sem o nosso peso
que o equilibrava...
Os
remos se afastam...e vão abraçar outros navegantes de quimeras....
MDC
8.06.2011
COMBATE
COMBATE
Cavaleiro e cavalo amestrado, galopam caminhos ásperos
espelham na calada lagoa do prado...inquietude e paixão.
Frondosas as árvores são fortalezas que ladeiam...
Combatem...cruzam espadas e lá vão!!!
Nunca param...enquanto não parar o coração.
No ser,amar e viver...perdem e ganham mil batalhas
A vitória está na conquista diária duma guerra...
a da VIDA-viva,do Amor.... da contradição...
(MDC--7.05.2011)
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